AZYMUTH
O trio instrumental Azymuth modernizou o som e o estilo do jazz brasileiro com seus instrumentos eletrônicos, arranjos angulares e a engenhosa síntese de jazz, funk, rock e samba. Após o falecimento do tecladista fundador José Roberto Bertrami em 2012, Alex Malheiros (baixo) e Ivan “Mamão” Conti (bateria) recrutaram o samurai dos sintetizadores Kiko Continentinho para o trio, que seguiu expandindo seu som, agora em sua quinta década de exploração das fronteiras de seu amado samba.
Entre 1969 e 1973, esses músicos, todos nascidos no mesmo ano de 1946, começaram a tocar juntos como requisitados músicos de estúdio, às vezes apenas dois deles e frequentemente os três juntos em sessões maiores. Rapidamente perceberam que sua química musical produzia um som que era maior que a soma das partes individuais. Na raiz de sua colaboração estavam suas influências compartilhadas, nomeadamente o jazz americano e uma apreciação mútua pelas bases da música brasileira. Como músicos de estúdio, a sintonia telepática do trio, o funk sutil e a maestria melódica elevaram o clássico Sonhos e Memórias 1941-1972 de Erasmo Carlos (1972) e ajudaram Marcos Valle a entregar seu melhor álbum, Previsão Do Tempo (1973).
Após algumas colocações de músicas-chave nas trilhas sonoras de populares telenovelas, o trio gravou seu álbum de estreia auto-intitulado, Azimüth, em 1975, seguido de Águia Não Come Mosca em 1977. Nesse mesmo ano, fizeram sua estreia no palco internacional no 11º Festival de Montreux, o que resultou na assinatura de contrato com a gravadora americana Milestone, para uma invejável sequência de dez LPs, além de outro trabalho com o vocalista jazzista Mark Murphy, fã do Brasil.
Mesmo gravando como um trio autossuficiente, eles continuaram a contribuir, individualmente e coletivamente, com suas habilidades singulares nas gravações de outros. O trio forneceu o pano de fundo para uma impressionante quantidade de discos clássicos durante o auge da música popular brasileira, desde o início dos anos 70 até meados dos anos 80. Suas contribuições para a discografia de Jorge Ben, Tim Maia, Erasmo Carlos, Rita Lee e Hyldon são apenas a ponta do iceberg.
Como trio, o Azymuth alcançou seu auge nos anos 80, pioneirando uma fusão moderna e ousada de jazz, rock e funk, sem nunca perder o toque do samba. Nos anos 90, quando parecia que a banda havia perdido o ímpeto, ela recebeu um impulso e reconhecimento muito necessários de DJs, músicos e dançarinos em Londres, como favoritos da próspera cena Acid Jazz, que também ajudou a ressuscitar as carreiras de outros músicos brasileiros, como Marcos Valle e Joyce.
Enquanto isso, DJs e produtores ousados, como MF Doom, Flying Lotus e Roni Size, encontraram inspiração e sons inovadores para reutilizar nas gravações clássicas do trio. Em 2008, Ivan Conti uniu forças com a realeza do hip-hop underground de L.A., Madlib, para um álbum colaborativo creditado a Jackson Conti, chamado Sujinho.
Em 2016, Ivan Conti, Alex Malheiros e Kiko Continentinho lançaram Fenix pelo selo londrino Far Out, provando sem dúvida que o grupo não perdeu fôlego após a perda do membro fundador José Roberto Bertrami. Neste registro único da Jazz Is Dead, com Adrian Younge e Ali Shaheed Muhammad, o trio mais uma vez demonstra sua habilidade de elevar seus colaboradores, ao mesmo tempo em que exibe seu som distintivo, continuando a redesenhar as fronteiras do jazz brasileiro, funk futurista e seu amado samba.